terça-feira, 11 de agosto de 2009

Mais desemprego para quem tem menor grau de instrução

Valor Econômico - Brasil - 07, 08 e 09.08.09 - A3

Conjuntura: Entre os trabalhadores analfabetos, o recuo em 2008 foi de 3,91%, revela a Rais
Número de empregos diminui para quem tem baixo grau de instrução

Arnaldo Galvão, de Brasília

A crise financeira prejudicou mais os trabalhadores brasileiros com menor grau de instrução. Essa é uma das revelações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), relativa a 2008, divulgada ontem pelo Ministério do Trabalho. Em nove faixas de instrução consideradas, as cinco menos qualificadas registraram recuo no estoque de empregos formais. Houve crescimento nos grupos que têm desde ensino médio incompleto até curso superior completo.
Dos analfabetos até aqueles que concluíram a 8ª série do ensino fundamental, o estoque de empregos formais, em 31 de dezembro 2008, foi de 13, 01 milhões de postos de trabalho. A perda, com relação a dezembro de 2007, foi de 147.764 vagas. No grupo dos trabalhadores analfabetos, o estoque recuou 3,91% e quedas parecidas foram registradas na faixa da 4ª série incompleta (3,16%) e 4ª série completa (3,03%).
Na avaliação do professor José Dari Krein, do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho, da Unicamp, a crise leva os empregadores a demitirem, em uma primeira etapa, os profissionais cuja atuação é menos estratégica para a produção e também os que representem menor custo para serem substituídos. Ele afirma que a alta rotatividade no emprego prova que demitir não é caro no Brasil.
A perspectiva para o emprego formal em 2009 ainda é nebulosa, na opinião de Krein. Ele explica que a recuperação mostrada pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a partir de março, ainda é "tênue", porque o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é muito baixo no primeiro semestre, influenciado, principalmente, pela indústria e suas perdas com exportações. "É cedo para dimensionar os efeitos da crise sobre o emprego."
O detalhamento do emprego formal no ano passado, revelado pela Rais, mostrou que foi criada 1,834 milhão de vagas, considerando contratos de trabalho celetistas, estatutários, avulsos, temporários e outras modalidades. O Caged, que mede apenas o grupo dos empregados celetistas, teve seu saldo, em 2008, corrigido de 1,45 milhão para 1,69 milhão de postos de trabalho.
Em 2007, a Rais tinha indicado resultado melhor que o de 2008, com geração de 2,45 milhões de empregos formais acima do nível medido em dezembro de 2006. O estoque chegou a 39,442 milhões de postos formais em dezembro de 2008, o que indica crescimento de 4,88% sobre dezembro de 2007.
Para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, 2009 terá criação de empregos formais em volume menor que o mostrado pela Rais de 2008. Ele argumentou que a crise prejudicou o Caged entre novembro de 2008 e fevereiro deste ano, quando foram verificados saldos negativos entre contratações e demissões no emprego celetista. Apesar disso, ele espera que o estoque ultrapasse a marca dos 40 milhões de empregos formais.
A Rais também mostrou que, no ano passado, o ganho real médio dos trabalhadores chegou a R$ 1.494,66, o que significa aumento de 3,52% sobre o período anterior. A variação considerou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).
Uma visão sobre os setores de atividade também mostrou que, em termos absolutos, serviços foi o campeão da geração de empregos em 2008. Em seguida, vieram comércio, construção civil, indústria e administração pública. Em termos relativos, o melhor desempenho foi da construção civil, com salto de 18,33% sobre o estoque verificado em dezembro de 2007.
A faixa etária mais jovem (16 a 17 anos) e a segunda faixa mais velha (50 a 64 anos) foram as que tiveram os maiores aumentos do estoque de empregos formais, com 9,75% e 8,17%, respectivamente. O problema é que elas ainda não têm, em termos absolutos, grande participação no total do emprego formal.
A distribuição geográfica do emprego formal, em 2008, teve o melhor desempenho no Sudeste, com a geração de 853,5 mil vagas. Em seguida, vêm Nordeste (380,9 mil), Sul (300,3 mil), Centro-Oeste (174,1 mil) e Norte (125,4 mil).
O perfil dos empregados, de acordo com a Rais 2008, indica que os homens têm rendimento médio de R$ 1,61 mil por mês, enquanto as mulheres recebem R$ 1,33 mil. Em todas as faixas de remuneração, as mulheres continuam ganhando menos que os homens, sendo que no nível de instrução superior completa, elas recebem R$ 2,466 mil e eles ficam com R$ 4,367 mil.
A Rais 2008 revela também que apenas 323,2 mil empregos formais estão enquadrados na categoria dos portadores de necessidades especiais, o que representa aproximadamente 1% do total. A lei exige 2%, mas Lupi admitiu que, com apenas 3 mil auditores em todo o país, não há como fiscalizar.
Lupi aproveitou os números da Rais 2008 para defender um número maior de concursos públicos. Citou que a administração pública, em 2008, agregou apenas 111,7 mil empregos ao seu estoque, o que prova, na visão dele, que não há inchaço da máquina pública. "Para continuar crescendo, o Brasil precisa de mais servidores públicos em todas as áreas, para que os brasileiros sejam melhor atendidos, com cada vez mais rapidez e eficiência", comentou.
De acordo com a Rais 2008, o mercado de trabalho formal cresce mais para as mulheres. Os números do ano passado indicaram aumento de 5,5% na força de trabalho feminina. Para os homens, a elevação foi de 4,44% com relação a 2007. No estoque de empregos formais medido em dezembro de 2008, havia 4,55 milhões de mulheres com curso superior completo ou iniciado. Nessa faixa de instrução, os homens ficaram com 3,38 milhões de vagas.

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