Valor
Econômico - Brasil - 21/10/2016 -
A3
Reajustes
salariais
empatam com INPC em setembro
Por Camilla Veras Mota
Os reajustes salariais
negociados em convenções e acordos coletivos no país empataram com a inflação
em setembro pelo terceiro mês consecutivo, aponta o boletim Salariômetro.
Em termos nominais, a mediana acumulada em 12 meses do levantamento da Fundação
Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) mantevese em
9,6%, percentual que também corresponde ao nível médio de correção do terceiro
trimestre. Foram analisados 753 documentos, dos quais 188 tratavam de
reajustes. Nos meses de janeiro e fevereiro, as negociações registraram as
maiores perdas reais do último ano, de 0,8% e de 0,3%, nessa ordem, sempre
levando em conta a mediana acumulada em 12 meses. Foi nesse período que o INPC
atingiu o valor máximo do último ciclo de aceleração da inflação, 11,3% no
acumulado em 12 meses. O percentual é ainda maior do que a inflação oficial, o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que chegou a 10,7% no
intervalo. Desde março de 2015 o INPC tem rodado acima do IPCA e desde abril
deste ano a mediana não fica abaixo da inflação. O quadro reitera a estrutura resiliente
dos salários no Brasil, elemento que vem sendo destacado por economistas como
um dos componentes que explica a resistência da inflação de serviços. A
descompressão desses preços, por sua vez, já foi colocada pelo Banco Central
como précondição
para que o ciclo de corte de juros iniciado na última quartafeira
tenha sequência. Em setembro, 45,6% dos acordos e convenções estipularam
correções abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), proporção
semelhante à de agosto (44,4%), mas bastante inferior ao pico registrado em
janeiro e fevereiro, quando mais de 60% dos reajustes perderam para a inflação.
No mesmo mês do ano passado, apenas 26,3% ficaram abaixo do índice. Conforme
os dados do boletim, que foram colhidos do Sistema Mediador, do Ministério do
Trabalho, geograficamente a região Sul do
país segue registrando os melhores resultados. Ao lado de Pará e São Paulo,
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os únicos Estados em que a
mediana acumulada em 12 meses dos reajustes atinge a inflação. Nos demais há
perda real, sendo a pior delas identificada no Acre, 5,6%, e, em seguida, no
Amapá, 2,8%. Dentre as categorias, as maiores perdas são das empresas
jornalísticas, de 3,3% em termos reais. Aparece em seguida o segmento de
extração e refino de petróleo, com a mediana dos reajustes 2,6% menor que a
inflação acumulada. Registraram ganhos reais os setores de confecção e
vestuário e de cemitérios e agências funerárias, ambos com alta de 0,2%. A
folha salarial real dessazonalizada recuou 0,2% entre junho e julho, dado mais
recente disponível, chegando a R$ 98,1 bilhão. O dado é estimado a partir dos
depósitos do FGTS feitos pelas empresas na Caixa e reflete, de certa forma, o
volume de recursos disponível no mercado formal. O boletim acompanha ainda os acordos
coletivos de redução de jornada com redução proporcional de salários, também
cadastrados no Sistema Mediador. Em setembro, permaneceu o cenário observado
nos últimos meses, com a maioria dos acordo firmados fora do Programa de
Proteção ao Emprego (PPE), lançado pelo governo em 2015 na tentativa de frear o
ritmo de fechamento de vagas com carteira assinada. Em setembro foram
contabilizados 16 acordos, apenas três através do programa, que financia, com
recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), parte do corte previsto na
remuneração. Desde agosto do ano passado, o total chega a 471, cerca de 33% via
PPE