quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Economia solidária

Jonral do Commercio - Seu Negócio - 05.11.09 - B-14

05/11/2009


O negócio é solidariedade


VIVIANE FAVER

A economia solidária tem sido uma resposta importante dos trabalhadores em relação às transformações ocorridas no mundo do trabalho. Ainda é um conceito ainda muito desconhecido no Brasil, onde chegou há menos de dez anos, inserido nos debates do Fórum Social Mundial (FSM), a partir do qual foi montado o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES), em 2003. É praticado por organizações que apostam na autogestão para realizar atividades de produção de bens e de serviços, crédito e finanças solidárias, trocas, comércio e consumo com base em valores como responsabilidade e sustentabilidade.

Apesar do tema se manter atual, o sistema no Brasil tem pouco mais de 100 anos, tendo iniciado em 1902. A primeira experiência, uma cooperativa de crédito, foi criada por um padre alemão, no Rio Grande do Sul, com modelo similar aos atuais. Um dos pilares da economia solidária é o comércio justo, que segundo a rede europeia News!, uma das maiores adeptas, busca criar meios e oportunidades para melhorar condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos.

Para difundir essas práticas, representantes da Central Única dos Trabalhadores, Petrobras, Fundação Banco do Brasil, Secretaria Nacional de Economia Solidária do PT, Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), Secretaria Nacional de Economia Solidária, Ecosol, Unisol, Banco do Brasil e Banco de Desenvolvimento Econômico (BNDES) promoveram em São Paulo, entre os dias 28 e 31, a 1ª Mostra Nacional de comercialização dos Produtos e Serviços da Economia Solidária, a Conexão Solidária.



exclusão. Cerca de 170 cooperativas apresentaram seus produtos, grande parte do Nordeste. A questão mais levantada foi a possibilidade de esse trabalho compensar os resultados da exclusão social provocada pela economia dominante e ser usado como resposta ao desemprego. Também foi discutida o pouco crédito para empréstimos oferecido pelos bancos a esses pequenos produtores.

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jaques Oliveira Pena, disse que tem apoiado fortemente essas iniciativas, e frisou a importância dessa economia. "Há transformações ocorridas na economia internacional devido a projetos como esses. O processo político coletivo que gerou as oportunidades que temos hoje foi fortalecido de empresas", ressalta.

No Brasil, o movimento de cooperativismo está presente em 2.933 municípios, o que corresponde a 53% do total, de acordo com dados da pesquisa do Sistema Nacional de Informação em Economia Solidária (Sies), feita entre 2005 e 2007, divulgada no evento. Foram mapeadas 21.851 experiências. A maior concentração está no Nordeste, com 43,5%, e os restantes estão distribuídos nas demais regiões: 12% Norte, 18% Sudeste, 10% Centro- Oeste e 16,5% Sul. A maior parte desses empreendimentos está organizada sob forma de: 52% em Associações, 36,5% grupos informais, 10% Organizações Cooperativas e 1,5% outras formas.

Os três principais motivos para a criação dos Empreendimentos Econômicos Solidários (EES), são a alternativa para desemprego (46%), complemento da renda dos sócios (44%) e obtenção de maiores ganhos (36%). Também são mencionados a possibilidade de gestão coletiva da atividade (27%) e condição para acesso a crédito (9%). Grande parte dos EES, 48%, atua na área rural, concentrada na região Nordeste e Norte, 35% têm atuação exclusivamente urbana, a maioria no Sudeste, e 17% em ambas. Os produtos e serviços destinam-se ao mercado local. A remuneração média mensal para 38% deste trabalhadores apresentam o valor de até meio salário mínimo, 24% um salário mínimo, e o restante têm renda variada.



INtegração. De acordo com o tesoureiro da Central Única de Trabalhadores (CUT), Antonio Carlos Spis, o comércio justo promove a integração do produtor com o consumidor final, sem a figura do intermediário ou atravessador, tão comum na economia normal. "Temos que levar em conta que a maioria do comércio brasileiro atua na informalidade, na clandestinidade. O campo é pouco privilegiado e explorado por grandes empresas. Contamos com o Sebrae, que está cuidando dos planos legalização para o pequeno agricultor", conta.

Ele destacou a responsabilidade das entidades em pautar o tema. "Há um compromisso do presidente em avançar nesse sentido, mas muitas vezes somos atropelados pelas demandas, por isso, a necessidade de pautar diariamente a questão. Vamos abrir o debate e mostrar para o mundo que temos a capacidade de comercializar nossos produtos. Para isso, precisamos discutir estratégias que serão fundamentais para o conjunto da classe trabalhadora", explicou.

Dentro do tema, a mais prática destacada pelos especialistas foi a "nova economia verde", que segundo eles é a mais responsável e inclusiva, e talvez por isso a mais adotada pelas grandes empresas atualmente, que visa a redução do impacto ambiental. Segundo o presidente da CUT, Artur Henrique da Silva Santos, já está sendo proposta uma agenda para abordar especificamente esse assunto, com ênfase em como produzir essa economia verde, evitando o desequilíbrio ecológico e social. "Se não resolvermos isso, não teremos um desenvolvimento sustentável. O comércio justo sem controle é um perigo", adverte.

Pequenas cooperativas, grandes iniciativas



Produtores de vinho se uniram em 1931, no Rio Grande do Sul, para formar a Aliança Cooperativa. O primeiro ano foi dedicado a reuniões que reuniram todos os produtores de vinhos da região, que antes eram concorrentes; já no segundo ano, construíram sede perto de uma linha ferroviária. Lá, todos os produtores descarregavam suas uvas para depois comercializá-las. O lucro é divido de acordo com a quantidade e a qualidade que cada um levou, porém todos têm o mesmo direito sobre a cooperativa.

Hoje, a Aliança tem 200 associados e possui as marcas Aliança, Santa Colina e Collina del Sole. Os produtos são sucos de uvas brancas e tintas, integrais e adoçados, vinhos de mesa brancos e tintos, coolers, vinhos finos varietais e espumantes.

A associada Eliane Carina De Gregori, destaca que o maior benefício foi a concorrência que acabou. "Nossa cooperativa nunca parou desde seu início. Sempre guardamos um fundo do lucro para investir em maquinário novo. Em 2005 investimos R$ 2 milhões, e a partir daí passamos a atingir a classe A e B", comemora.

Ela conta que as dificuldades estão diminuindo e que nos últimos anos as cooperativas têm sido mais ouvidas pelo governo e pela sociedade. "O que muda numa cooperativa é que a base dela está onde ela trabalha, e ela só fecha se seus associados se demitirem", diz.

Um pouco menor e mais nova, a cooperativa Associação das Artesãs (Aarte), criada no ano de 2006, em Fortaleza, é formada por antigas costureiras ex-funcionárias do programa do governo "Mulheres Empreendedoras", que acabou em 2005.

A Aarte começou com 52 funcionárias, e hoje já são 200. O trabalho, exposto semanalmente em duas feiras na cidade, é feito com lã reciclada, caixote de madeira, retalho, algodão, detalhes aplicados a mão, camiseta, peça feita com osso de boi e artesanato em geral.

De acordo com uma das integrantes, Angelice Santos Custodio, a cooperativa teve apoio do Banco do Nordeste do Brasil S. A, que forneceu uma linha de crédito. "Com a liberação do crédito a Associação andou, participamos de alguns eventos e a interação do grupo aumentou", comenta.

O próximo objetivo das artesãs é achar uma sede, onde possam trabalhar, ao invés de fazer isso de casa. "Desde quando formamos a cooperativa tudo melhorou. Estamos ganhando uma renda melhor e participando de mais rodadas de negócios", conclui Angelice.

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