sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aprendiz

Jornal Valor Econômico – Especial – 17.06.2010 – F2
Adoção de aprendiz traz bom retorno para companhias

Jovens: Programas desenvolvidos por empresas articulam os mundos da educação e do trabalho
Silvia Torikachvili, para o Valor, de São Paulo
17/06/2010
Silvia Costanti/Valor

Lurdes Lanzana, da Serasa: "É um pessoal que chega cheio de garra, sede de aprender e vontade de querer dar certo"
Faz mais de dez anos que os 2.800 funcionários da Serasa Experian têm familiaridade com aprendizes - antes mesmo da regulamentação da Lei da Aprendizagem. "É um pessoal que chega cheio de garra, sede de aprender e vontade de querer dar certo", diz Lurdes Lanzana, gerente de Planejamento de Talentos da Serasa. Desde o início do programa Jovem Ser Cidadão, 142 aprendizes foram efetivados ou estão em fase de contratação.

A vantagem dessa lei é que os jovens são treinados dentro da cultura da empresa, diz Eliandra Cardoso, gerente-geral da Espro (Ensino Social Profissionalizante), parceira da Serasa. A Espro é responsável pela capacitação de mais de 12 mil jovens por ano em 902 cidades brasileiras onde mantém parceria com cerca de 500 empresas.

"As empresas que resistem, mas acabam cumprindo a lei por obrigação, logo constatam que é um bom negócio", diz Elisandra. "Adotar um aprendiz faz toda diferença na companhia". Lurdes Lanzana concorda: "A empresa faz investimento no aprendiz, mas o retorno é muito maior". Amanda Félix entrou como aprendiz na Serasa aos 16 anos, foi efetivada há 18 meses e hoje, aos 19, já cursa a faculdade de administração. "Aprendo rápido e sei que faço diferença onde estou; participo dos processos e colho frutos", diz . Lurdes, que lida e treina esses talentos na Serasa, sabe que a perspectiva é boa: "Dificilmente eles teriam essa oportunidade no ambiente familiar".

Aprendiz tem tudo para ir longe. O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, começou aos 14 anos na agência de Paraguaçu Paulista (SP) e passou por todos os estágios até chegar ao posto máximo da instituição. "Eu queria fazer carreira em uma das maiores empresas do país", lembra Bendine, mais conhecido no banco como Dida. "Foi uma jornada de 30 anos em que formei meu caráter, consolidei valores e me desenvolvi como homem e profissional de acordo com a cultura do banco." O programa de formação de jovens no Banco do Brasil é de 1971. Desde então passou por reformulações e adaptações à Lei da Aprendizagem. Só na década de 2000 treinou mais de 23 mil aprendizes.

Articular a educação com o trabalho seria a associação perfeita entre o que a escola ensina e o que as empresas procuram, segundo a presidente da ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos), Leila Nascimento. Essa conexão até já existiu, no tempo em que as escolas ensinavam técnicas bancárias, comerciais e administrativas. "Hoje é preciso correr atrás do prejuízo", diz Leila. "Em muitas localidades a falta de parcerias com entidades que treinam os aprendizes dificulta a implantação do programa", diz Leila.

Diante das dificuldades grandes, empresas investem nas próprias universidades corporativas ou mesmo na comunidade do entorno porque sabem que, cedo ou tarde, vão precisar daquela mão de obra. "Isso é consequência da informação desconectada da escola com o mundo do trabalho", deduz Leila. "Precisamos de uma política de mobilização da sociedade, do governo e da empresa, que é a maior protagonista do trabalho". Para Leila, a Lei da Aprendizagem coloca o país numa escalada de crescimento.

A TAM, por exemplo, faz parceria com o CIE-E no treinamento dos aprendizes. O programa começou em 2005 e capacitou 704 adolescentes desde então, segundo Carolina Duque, diretora de gestão de pessoas da empresa. "Quem não é absorvido sai com todas as condições para se colocar em outras companhias", diz Carolina. "Mas como aprendiz nunca sai de nosso banco de dados, quando surge uma oportunidade é a ele que recorremos."


Lei colabora com redução da taxa de evasão escolar
De São Paulo
17/06/2010
A taxa de desemprego no Brasil está em 7%. Mas entre os jovens com ensino médio incompleto, ela sobe para 16,2%. Dos quase 3,6 milhões de alunos matriculados na primeira série do ensino médio no início de cada ano letivo 1,8 milhão deixam a escola sem concluir o curso, segundo o censo escolar do Ministério da Educação (MEC). "Estamos perdendo esses jovens não para o mercado do trabalho, já que o maior índice de desemprego está na faixa dos 15 aos 18 anos com ensino médio incompleto", lamenta Wanda Engel, superintendente do Instituto Unibanco. "A única forma de resgatar esse contingente é a Lei da Aprendizagem, que ao mesmo tempo conduz de volta à escola e introduz no mercado", diz.

Entre os 10 milhões de brasileiros de 15 a 17 anos, 4,8 milhões estão cursando o ensino médio; 3,2 milhões ainda frequentam o ensino fundamental; outros 2 milhões estão fora da escola, segundo o IBGE. A oportunidade de uma capacitação para o trabalho nessa faixa etária pode ser a única oportunidade que esses jovens terão na vida. As empresas também ganham com isso. "Não existe projeto de responsabilidade social de maior impacto que a Lei da Aprendizagem", garante Wanda Engel. "Treinando os jovens para funções específicas, o departamento de recursos humanos da empresa terá oferta maior e mais qualificada."

Além disso, a Lei da Aprendizagem estanca a evasão escolar, prolonga a permanência do jovem na escola e promove a inclusão social. "Sem essa oportunidade hoje, teremos de pagar ainda mais impostos lá na frente para bancar programas assistenciais."

As vagas para aprendizes nas empresas batem em mais de um milhão, segundo estimativa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Mal se conseguiu preencher 166 mil, segundo o placardoaprendiz.org.br, que iniciou essa contagem em novembro de 2007. O entrave para preencher os postos, conforme a coordenação da Política de Aprendizagem do MTE, é que nem todas as empresas estão informadas sobre a lei; muitas dizem ter dificuldade em estabelecer parcerias com entidades responsáveis pela parte teórica dos programas; outras ainda alegam falta de recursos; e o próprio governo não consegue fiscalizar quem preenche ou não as cotas.

Soluções não faltam. No caso da dificuldade em encontrar organizações parceiras, Wanda Engel sugere que as escolas técnicas sejam incluídas nessa ciranda com cursos de formação mais curtos e adaptados às necessidades das empresas. "O Sistema S também poderia empenhar-se para absorver uma quantidade maior de aprendizes; e as próprias empresas deveriam aproveitar a oportunidade para praticar uma responsabilidade social efetiva junto à comunidade", finaliza Wanda. O Brasil tem cerca de 36 milhões de jovens entre 14 e 24 anos - faixa etária à qual se aplica a lei. (S.T.)

Jornal Valor Econômico – Especial – 17.06.2010 – F2
Atletas emprestam prestígio à causa
De São Paulo
17/06/2010

A oportunidade oferecida aos aprendizes é o diferencial no negócio, acredita Adair Meira, presidente da Fundação Pró-Cerrado de Goiânia (GO), que trabalha junto a empresas do Planalto Central desde 1996. "A aprendizagem tem a cara do mundo corporativo, faz parte das melhores práticas", diz.
Para que as empresas ainda refratárias entrem nessa ciranda, a Pró-Cerrado conta com a parceria da Atletas Pela Cidadania, ONG fundada em 2006 com o objetivo de batalhar pelo cumprimento da Lei da Aprendizagem. Nesse corpo a corpo, a Atletas desembarca nas reuniões com empresários na companhia de figuras carimbadas, como Ana Moser, Hortência, Edimilson, Raí e outros 43 atletas. "Fazemos lobby, sim, mas com ética", diz Daniela Castro, coordenadora da Atletas. "Atletas em geral têm um histórico de transformação da própria vida, vieram de comunidades carentes e precisam apenas contar sua trajetória para sensibilizar os empresários."
Raí de Oliveira, uma das estrelas da Atletas, comanda sua própria organização social, a Gol de Letra, mas dedica tempo e poder de convencimento à causa da Lei da Aprendizagem. "A fiscalização é antipática, mas necessária", acredita Raí. "As empresas deveriam encarar a Lei da Aprendizagem como vantagem: além de tratar do futuro profissional do jovem, cria um banco de talentos exclusivo e tem incentivos fiscais", diz. "É a maior política pública de inclusão; num ano eleitoral, não entendo como nenhum candidato levanta a bandeira da Lei da Aprendizagem."
Todo empresário precisa entender que essa lei é transformadora e inclusiva, concorda Eduardo Oliveira, superintendente de operações do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), entidade capacitadora que trabalha em parceria com mais de 4.500 companhias.
O conteúdo pedagógico é fornecido pela Fundação Roberto Marinho, que desenvolve o material do Aprendiz Legal. "Temos 20 mil jovens em programas de treinamento, mas é um volume muito tímido comparado à demanda", diz. "Precisamos correr contra o tempo para inserir cada vez mais jovens em situação de risco no mercado de trabalho." Oliveira diz que 64% do pessoal treinado no Ciee são efetivados depois dos dois anos de aprendizagem.
Para motivar as empresas, o Ciee promove eventos, faz reuniões, bate à porta das empresas com o slogan ' Empresário, contrate um aprendiz. É bom para a empresa, é bom para o país ' .
Ainda assim, por desconhecimento da lei, alegando dificuldade de encontrar parceria para o treinamento e até protegidas pela falta de fiscalização, muitas empresas estão fora do www.placardoaprendiz.org.br , campanha da Atletas pela Cidadania, em parceria com o Instituto Ethos e o GIFE, que acompanha a evolução do número de aprendizes contratados.
Em junho, o placar indica que no Brasil há 166.034 aprendizes contratados - 21% da meta estabelecida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2008, de 800 mil até fim de 2010. (S.T.)

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