segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sindicatos querem criar faculdade

Valor Econômico - Especial/Formação profissional - 4, 5 e 6.12.09 - F4

Trabalho: Bancários de São Paulo vão encaminhar ao Ministério da Educação projeto para criar faculdade Sindicatos voltam-se para a sala de aula

Rachel Cardoso, para o Valor, de São Paulo
04/12/2009

Claudio Belli/Valor

Luiz Claudio Marcolino, presidente do sindicato dos bancários de SP: "Com os cursos, propiciamos ao trabalhador a chance de melhorar a competitividade"
O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), está às voltas com um ambicioso projeto. Deve lançar no próximo ano uma faculdade. Os investimentos na empreitada ainda não foram definidos, mas a proposta que será encaminhada ao Ministério da Educação está adiantada. "Será uma instituição totalmente voltada para o sistema financeiro", diz o presidente do sindicato, Luiz Claudio Marcolino. "A ideia é criar cursos de graduação e especialização e, num segundo momento, pós-graduação."

Este passo será dado em decorrência da demanda dos quase 135 mil associados, que têm abarrotado o Centro de Formação Profissional, inaugurado em 1993. "Com os cursos oferecidos, propiciamos ao trabalhador a chance de melhorar sua competitividade, além de garantir uma especialização", diz o dirigente sindical dos bancários.

Nos últimos seis anos, participaram dos 272 cursos ministrados no centro 5,5 mil alunos. Totalmente financiados pela entidade sindical, com investimentos anuais que chegam a R$ 80 mil, os programas são muito procurados até por conta das exigências do Banco Central (BC) para quem quer atuar na área. Os alunos desembolsam por módulo entre R$ 170 e R$ 325. "O custo corresponde a um terço do valor se comparado aos demais ofertados por outros estabelecimentos de ensino", compara Marcolino.

Com o mercado de trabalho globalizado e mutante, o sindicato dos bancários não é o único a se prevenir e ampliar os investimentos em qualificação profissional. Os valores aplicados, no entanto, são guardados a sete chaves. A maior parte dos recursos vem do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Por isso mesmo, antes de destinar dinheiro a qualquer curso, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM), que tem sob o guarda-chuva o Centro de Solidariedade ao Trabalhador (CST), filiado à Força Sindical, opta por realizar pesquisas nos locais em que atua para checar qual é a demanda do mercado quanto à formação profissional.

Amparado por dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), ambos elaborados pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), a CNTM mapeia estas necessidades e procura atendê-las. "No momento temos cursos voltados para o setor de alimentação, serviços domiciliares telemarketing e administração", diz Gildo Bezerra da Rocha, coordenador-geral do CST/CNTM.

Quando o trabalhador recorre ao CST, são postas em prática três ações - intermediação da mão de obra, habilitação do seguro desemprego e ação de qualificação. Até o final de novembro deste ano, 1,8 mil pessoas foram qualificadas. "Queremos contribuir para a formação do trabalhador, que em geral tem baixa escolaridade, e dessa forma, promover uma inserção concreta no mercado de trabalho", observa Rocha.

Em um país onde há uma deficiência crônica no setor educacional, ações como a do Sindicato dos Comerciários de São Paulo são bem-vindas e sugerem um futuro um pouco mais promissor para quem procura emprego e quer se qualificar. Com 50 mil sócios, a agremiação disponibiliza aos seus integrantes seminários sobre meio ambiente, economia, sindicalismo, direito comparado e comunicação. "As pessoas precisam compreender o que ocorre na área ambiental, quais serão os impactos ocasionados pela falta de alimentos e pelas mudanças climáticas", diz o presidente do sindicato e também da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah. "Se o trabalhador não tiver consciência dos temas atuais, as consequências serão adversas."

O sindicato dos comerciários da capital tem convênios com Fatecs e Etecs e também firmou acordos com 125 universidades, faculdades e escolas para a obtenção de até 40% de desconto nas mensalidades. Patah reconhece que a maioria das pessoas que se associa ao sindicato está à procura desses benefícios. "Mais de 15% desse contingente é formado por jovens que querem se qualificar e ter acesso ao ensino superior."

Com 12 mil associados, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Plásticas de São Paulo e Região se beneficia do Plano Setorial de Qualificação (Planseq), ação casada do MET com o Ministério do Desenvolvimento Social, para aumentar as possibilidades de emprego nos setores da economia que mais apresentam crescimento. Por meio do convênio firmado foram oferecidos cursos nas áreas de papel e celulose e setor farmacêutico, num total de 124 turmas e 4.320 formados.

"Como a atribuição da qualificação profissional é tripartite, ou seja, compete às entidades patronais, aos sindicatos e aos trabalhadores, cada um desses setores da sociedade vislumbra uma série de benefícios", diz Mário Henrique Ladosky, assessor da área de formação sindical. O empregador ganha porque terá um funcionário mais qualificado e preparado; o sindicato, por outro lado, agrega mais frequentadores e assim se estabelece um canal de diálogo mais sólido, conscientizando o aluno; e no final, o trabalhador é beneficiado porque ele fica com esse conhecimento adquirido, que o ajudará em sua jornada.

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