sexta-feira, 13 de março de 2009

Europa reduz vencimentos do funcionalismo

Valor Econômico - Internacional - 09.03.09 - A11

Europa já reduz salário do setor público
Assis Moreira, de Genebra
09/03/2009


A crise financeira quebra mais um tabu na Europa, com governos começando a reduzir o salário de funcionários do setor público. A medida poderá ser seguida por outras regiões se a crise se agravar, concordavam ontem alguns economistas em Basileia, à margem de reuniões de bancos centrais.

O primeiro a tomar a decisão foi a Irlanda, seguida pela Letônia e Hungria. A Romênia poderá ser obrigada a fazer o mesmo para conseguir ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de seus parceiros da União Europeia (UE).

O governo da Irlanda cortou mais de 7% na remuneração, através de um mecanismo para financiar aposentadorias. A medida provocou a maior manifestação pública de Dublin, reunindo mais de 120 mil pessoas.

A Letônia baixou os salários em 15%, e o governo acabou caindo. A Hungria acabou com o décimo-terceiro salário para funcionário público. Mas a Alemanha, a maior economia da Europa, nem ousa em falar no assunto. E na França, o governo diz que na verdade haverá aumento no poder de compra dos empregados públicos.

Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE), vem defendendo a redução dos salários do funcionalismo, segundo o jornal francês "Le Monde". Para ele, isso é ainda mais necessário em países em dificuldades, como tentativa de manter certa competitividade.

A Irlanda, membro da zona euro e chamada de tigre celta até há pouco, tem contas públicas calamitosas. O custo de assegurar a dívida contra calote (CDS, Credit Default Swaps) do país reflete uma alta probabilidade de suspensão de pagamentos. Calcula-se que a necessidade de financiamento para 2009 seja de 25 bilhões de euros. A estimativa anterior era de

18,4 bilhões de euros. Dublin planeja recorrer ao mercado em busca de 2 bilhões de euros por mês, pelo menos. O endividamento líquido é de 5 mil euros por habitante, a maior taxa entre os países europeus.

Ocorre que outros paises, até então em plena expansão economica, não se inquietaram com inflação, bolha imobiliária, déficit público. Sindicatos por sua vez notam que a qualidade creditícia media da maioria dos países piorou porque os governos não aproveitaram para consolidar as finanças públicas e agora tentam pegar os funcionários públicos como bode expiatórios.

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