segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Teletrabalho em crescimento

Jornal do Commercio - Gerência - 14.02.2012
Teletrabalho: O sistema home Office tem sido uma prática utilizada por mais de 30% das empresas, mostra pesquisa. Economia de custos é uma das razões.

Alternativa para atrair e reter talentos
Por: Bianca Mello


     Pesquisa elaborada pela consultoria Hays Recruiting Experts Worldwide, divulgada no início deste ano, mostrou que 31,2% das empresas adotam o sistema de home office. Entre as principais razões apontadas pelas companhias, a preocupação em garantir a retenção de talentos e oferecer melhor qualidade de vida aos funcionários apareceu em 72,7% das respostas.

     De acordo com os consultores, esta prática é tendência de mercado e traz benefícios tanto para empresa quanto para o funcionário. O gerente de área de RH da Hays, André Magro, explica que existem dois modelos. O primeiro é mais comum para o pessoal de vendas e representantes de localidades remotas, que só vão ao escritório quando têm reunião de equipe, fora isso eles estão visitando clientes ou em casa.

     “Outro modelo de home office, que é o que está na moda nos dias de hoje, ocorre com o profissional que trabalha no escritório, mas que eventualmente passa um dia da semana trabalhando remotamente. Existe flexibilidade, mas ele não passa todos os dias em casa”, explica Magro.

     Para o gerente executivo da empresa de recrutamento Page Personnel do Rio de Janeiro, Luis Fernando Martins, as vantagens são muitas. Entre elas, economia com empregados e encargos sociais, facilidades de mudança de ramo de atividade, melhoria dos custos dos serviços, otimização de atividades no mesmo ponto, atendimento permanente ao cliente e reforço à terceirização e profissionalização de serviços.

     Martins ressalta que apesar de não haver desvantagem, na sua opinião, existem riscos como a difícil sucessão, em caso de necessidade de transição; interferências de assuntos domésticos nos assuntos profissionais; preconceito no mercado formal (em caso de empresa não registrada) e dificuldades de obtenção de créditos (em caso de empresa informal).

     A gerente de Recursos Humanos da empresa de produtos de higiene Kimberly-Clark, Flavia Caroni, explica que o sistema foi implantado na empresa para otimizar o tempo do colaborador, que gastava em média duas horas no deslocamento até a empresa, O projeto, ainda piloto, teve início este ano, Entraram apenas os colaboradores que para exercer sua função, não dependam de algum equipamento que não pode ser deslocado da empresa.

    “Hoje em dia, devido ao trânsito recorrente das grandes cidades e os altos custos, as empresas precisam pensar em programas que proporcionem maior qualidade de vida ao colaborador, ajustando flexibilidade de trabalho e balanceamento entre a vida pessoal e profissional”, sugere Flavia.

     A diretora da consultoria de comércio exterior Guedes, Bernardo, Imamura & Associados, Josefina Guedes, contou que a empresa adotou o home office há três anos. Começou com o gerente, que é atual sócio da empresa e depois foi a vez dela. O gerente decidiu se mudar para São Paulo por questões familiares e por ser uma pessoa pela qual os sócios tinham muito apreço abriu-se a possibilidade para esta forma de trabalho.

     “Acho que a pessoa acaba se dedicando até mais ao trabalho porque ela quer mostrar que tem responsabilidade para trabalhar desta forma. Ainda temos a vantagem de ter a sede da empresa no Rio de Janeiro e representantes em São Paulo e nos Estados Unidos, que é onde eu vivo”, ressaltou Josefina.

     A empresa de benefícios corporativos Ticket tem 100% da sua área comercial em trabalho remoto. Ao todo a empresa possui 150 colaboradores neste tipo de rotina e o processo de mudança levou seis anos. “Tudo foi feito com cautela e respeitando o mercado e colaboradores. Inicialmente as pessoas ficavam apreensivas, pois estavam acostumadas a trabalhar no escritório. Tivemos que fazer um processo de treinamento para ensiná-las a gerenciar seu próprio tempo”, conta a diretora de RH, Edna Bedani.

    Edna disse que foi preciso fazer um acordo coletivo com o sindicato para que fizessem um adendo ao contrato de trabalho, já que eles não batem o cartão de ponto. Segundo a diretora de RH da Ticket, as pesquisas internas indicam que mais de 90% dos profissionais estão satisfeitos e não voltariam a trabalhar no escritório.

    “Tivemos aumento de produtividade e melhorou também a relação de confiança entre a equipe e o gestor. O volume de vendas cresceu 40% desde 2005. Mesmo com o alto investimento inicial, a economia gerada pelo programa foi de R$ 3,5 milhões, ao longo desses seis anos. O colaborador tem um engajamento maior com a empresa que confia em deixá-lo trabalhando sozinho, por isso o nosso índice de retenção na área comercial é muito alto”, afirma a executiva da Ticket.

     O CEO da agência Strenna Comunicação Corporativa, Marco Antonio Menezes, afirmou que o sistema fez muito bem para os funcionários da sua área de criação, trouxe maior velocidade e, em alguns casos, aumentou a qualidade dos trabalhos. “Outro benefício que observamos é a questão da responsabilidade fiscal, trabalhista. Em home office você acaba isentando a agência dessas questões. Temos alguns contratados, mas a maioria é freelancer e recebe por trabalho”, informa Menezes.

     Consultores ressaltam que é importante criar política de reuniões e encontros periódicos para que o funcionário não se sinta muito isolado da equipe de trabalho e distante da organização. “Reuniões presenciais e interação com a equipe são importantes para que o profissional se sinta desenvolvido e que sua exposição na empresa não seja avaliada apenas por números/resultados financeiros”, destaca o gerente executivo da Page Personnel no Rio de Janeiro.

     “Um ponto de atenção é criar situações para que ele se sinta pertencente a uma empresa”, conclui Edna.

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