Notícias do TST
Painel discute peculiaridades do atual sistema
sindical
(Sex, 27 Abr 2012 10:54:00)
Em painel realizado na tarde de ontem (26) no Seminário sobre Liberdade
Sindical e os Novos Rumos do Sindicalismo no Brasil, o tema central da discussão
foram as características e fragilidades do atual modelo sindical brasileiro –
organização, registro, pluralidade e unicidade e fontes de custeio.
José Carlos Arouca, desembargador aposentado do Tribunal Regional da 2ª
Região (SP) e assessor sindical, questionou se a substituição do custeio
mediante contribuições compulsórias de todos por contribuições voluntárias
resolverá "a extraordinária crise sindical e o antissindicalismo, possibilitando
aos trabalhadores, afinal, sua ascensão na escala social". Para Arouca, a
autonomia prevista na Constituição Federal de 1988 existe somente no papel. "A
pretexto de respeitar a liberdade sindical, são registrados sindicatos
fantasmas, não para representar grupos inorganizados, mas minúsculas
dissidências, resultantes de dissociação ou desmembramento de setores já
organizados, e tudo em assembleias vazias"", assinalou.
Arouca afirmou que não se pode falar em negociação livre se ela está limitada
a uma vez a cada ano, na data base, com prazos curtos de início e fim. O mesmo
se aplica à convenção coletiva, que se esgota em até dois anos, quando as
negociações têm de recomeçar do início. Por seu lado, a greve, que antes era
sufocada pela polícia, é coibida por outros meios, como o interdito proibitório,
ação ajuizada pelo empregador para garantir, judicialmente, o acesso dos
empregados ao local de trabalho, "que virou moda e é sempre deferido", ou
decisões que determinam o retorno ao trabalho, declarando a greve ilegal ou
abusiva e aplicando pesadas multas" – a exemplo, como citou Arouva, do que
aconteceu recentemente nas greves no canteiro de obas da construção da Usina
Hidrelétrica de Jirau. "Melhor que a unicidade imposta por lei seria a unidade
ajustada pelos atores", defendeu.
Pulverização
José Francisco Siqueira Neto, doutor em Direito pela Universidade de São
Paulo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que o
sistema sindical brasileiro tem um padrão lógico mínimo, e a pulverização dos
sindicatos tem haver com a pulverização dos municípios. Isso significa, para
ele, que a representação de interesses politicamente relevantes no país é um
problema do federalismo brasileiro, com reflexos diretos no sindicalismo. Assim,
toda vez que surge um problema de representação de interesse, cria-se um
sindicato ou um município. "Essa é a lógica", observou, acrescentando que,
quando todo mundo imaginava que se teria assegurado um processo mais firme de
expansão sindical com a Constituição de 1988, aconteceu exatamente o contrário,
uma expansão quase que exponencial.
Na sua opinião, a multiplicação dos sindicatos tem haver também com a
criatividade do brasileiro, que acaba desmembrando um sindicato de trabalhadores
em bares, hotéis e restaurantes em outro de trabalhadores em refeições rápidas.
A questão, porém, é saber qual a melhor relação de trabalho para o país: a
manutenção de um modelo que cada vez mais descarrega toda a efetivação do
direito na Justiça do Trabalho ou a busca por um sistema em que as forças
sociais possam, autonomamente, estabelecer as regras e condições de trabalho de
maneira geral. "Aquilo que for disfunção, aí sim, a Justiça do Trabalho entra e
corrige".
De acordo com o Siqueira Neto, a representação unitária forte e efetiva
somente é possível mediante a centralização, ou então devido a uma localização
estratégica, como a dos metalúrgicos do ABC paulista. A respeito do custeio,
defende uma solução que considera muito simples: garantir que toda negociação
coletiva gere uma contribuição aplicável a todos os que serão beneficiados por
ela.
Diagnóstico e diálogo
A secretária de Relações de Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), Zilmara David de Alencar, disse que existem 14.922 entidades com registro
no MTE, entre sindicatos rurais, urbanos, de empregadores, federações,
confederações, e de categorias diferenciadas. Sua preocupação, diante desses
números, é a dificuldade de se chegar a um diagnóstico fiel do panorama sindical
no país que sirva de base sólida para as necessárias mudanças. E lembrou que, no
aspecto formal, "a legislação é perfeita e democrática", e qualquer entidade
sindical pode ser constituída sem qualquer tipo de interferência ou intervenção
do Estado.
Para a secretária, o momento é adequado para se refletir sobre as
contribuições sindicais e sobre a conveniência de criação de uma contribuição
negocial substitutiva à legal, obrigatória, de um dia de salário por ano, para
toda a categoria. "Devemos respeitar o diálogo social, ouvir o que a sociedade
quer, clamar por maior participação social", afirmou. "O diálogo social e o
envolvimento das classes para esse nível de discussão é que poderão trazer, sem
dúvida, pelo menos um diagnóstico e ,quem sabe, uma relação de trabalho mais
adequada, com equilíbrio entre o capital e o trabalho", concluiu.
(Mário Correia e Lourdes Côrtes)
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