quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

400 mil postos de trabalho fechados na indústria desde outubro

Valor Econômico - Brasil - 20.02.09

Ajuste rápido fez indústria eliminar 400 mil empregos
Cibelle Bouças, de São Paulo
20/02/2009

Desde que o ajuste na atividade econômica começou a ser feito, em outubro, o saldo no fechamento de postos formais de trabalho totalizou 736.114 vagas, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Desse total, 400.429 postos foram fechados nas indústrias. Para analistas, o segmento foi o que mais rapidamente adequou produção, estoques e nível de emprego à desaceleração da demanda. Para eles, o resultado dos últimos quatro meses constitui o principal ajuste que deve ocorrer no mercado de trabalho. Para os próximos meses, a expectativa é de que ainda haja redução no número de postos formais, mas em volume inferior ao registrado em dezembro e janeiro.

Na avaliação do economista da LCA Consultores, Fábio Romão, os segmentos de comércio e serviços ainda deverão efetuar ajustes no número de empregados. "A indústria reagiu rapidamente à mudança no cenário econômico. Comércio e serviços responderão com uma certa defasagem, mas tudo indica que o maior volume de demissões ficou no último bimestre", afirma. Pelos dados do Caged, entre outubro e janeiro, o setor de serviços fechou 39.238 postos e o comércio, embora tenha efetuado 50,8 mil demissões em janeiro, manteve saldo positivo de 66,6 mil no quadrimestre.

Para Romão, o aumento do salário mínimo com ganho real e a inflação mais baixa neste ano podem garantir a manutenção do consumo e da demanda nesses segmentos e garantir, dessa forma, um ajuste mais suave no nível de emprego. "O comércio encerrou com saldo negativo devido à decisão das empresas de não efetivar temporários no mesmo nível de anos anteriores. Haverá desaceleração no setor e em serviços, mas em nível menor que na indústria", avalia. Em relação ao setor industrial, ele considera que alguns setores ainda farão ajustes, como os de metalurgia, que em janeiro ainda apresentou forte queda na demanda, e papel e celulose, que no mês teve queda de 18% nos preços internacionais e está com estoques altos. "O setor de mecânica também pode ter ainda algum ajuste por conta da demanda enfraquecida na área de bens de capital."

Avaliação semelhante faz a analista da Tendências Consultoria Integrada Ariadne Vitoriano, que prevê para janeiro taxa de desemprego de 7,7%, bem acima dos 6,8% apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro. O levantamento será divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira. Para a economista, no entanto, o mercado de trabalho ainda deve apresentar uma deterioração significativa, tendo em vista que muitas empresas optaram até agora por férias coletivas e outras medidas que reduzem a jornada sem corte de postos de trabalho. "É normal que o mercado de trabalho seja ajustado com uma certa defasagem em relação ao restante da economia", afirma, observando que ainda não há sinais claros de uma recuperação na economia brasileira neste semestre.

A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, também espera ainda redução do emprego formal no país nos próximos meses, mas em menor escala. Ela observa que, no acumulado de 12 meses, a redução no total de postos já foi bastante significativa, passando de 2,097 milhões de vagas abertas até setembro do ano passado para 1,208 milhão em janeiro deste ano - sendo esse último o pior saldo desde junho de 2004. "Houve uma retração bastante grande em um prazo curto. É possível que daqui para frente haja redução de vagas, mas em ritmo menos acentuado", afirma.

A expectativa de desaceleração no fechamento de postos da Rosenberg e da LCA baseia-se nos dados de janeiro. Segundo cálculo da Rosenberg, o saldo de postos fechados com ajuste sazonal ficou em 103,7 mil vagas no mês, abaixo do saldo de 199,2 mil de dezembro ajustado sazonalmente. Na indústria, o saldo ajustado ficou em 52 mil em janeiro, ante 113 mil em dezembro. A LCA, por sua vez, calcula a variação mensal no estoque de empregos formais. Pelo cálculo, em janeiro, o estoque teve queda de 0,15%, após queda de 0,5% em dezembro. "É uma retração pequena, o total de empregos ficou praticamente estável", diz Romão.

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