quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Crescimento de 5% da massa salarial acima da inflação

Valor Econômico - Brasil - 05.10.2010 - A4

Trabalho: Alta da ocupação e do rendimento deve levar indicador a ter expansão real na casa de 6,5% em 2010
Massa salarial cresce R$ 23 bi em regiões metropolitanas
Sergio Lamucci | De São Paulo

Silvia Costanti/Valor

Jhonata Carlos Monteiro: com mudança de emprego, ajudante de produção passou a comprar mais bens de consumoO ajudante de produção Jhonata Carlos Monteiro teve uma melhora de renda razoável neste ano, ao trocar a confecção em que trabalhava pela metalúrgica Ventisilva, fabricante de ventiladores, minimotores e exaustores. Além de ver o salário aumentar de R$ 510 para R$ 814, Monteiro passou a ter mais dinheiro disponível no fim do mês por causa de benefícios como tíquete refeição, cesta básica e convênio médico.

"Depois que mudei de emprego, eu comprei um Playstation 2 e uma bicicleta, e agora estou juntando dinheiro para comprar um carro no ano que vem", diz ele, que mora na casa dos pais, onde ajuda com as despesas. "Hoje, posso comprar coisas que antes não conseguia. O meu guarda-roupa também aumentou", afirma o metalúrgico, que passou a adquirir roupas e calçados com mais frequência.

A história de Monteiro ilustra bem o comportamento do mercado de trabalho em 2010. Nos 12 meses até agosto, a massa salarial cresceu R$ 17,8 bilhões nas seis principais regiões metropolitanas do país, já descontada a inflação, uma alta de 5%. No ano de 2010 inteiro, a expectativa da Tendências Consultoria Integrada é que essa massa cresça R$ 23 bilhões em termos reais. Isso embute uma estimativa de alta de 6,5% para a massa salarial, já descontada a inflação, um percentual significativamente maior que os 3,9% de 2009.

A força do mercado de trabalho tem sido fundamental para explicar o crescimento expressivo demanda, diz o economista Bernardo Wjuniski, da Tendências. A expansão robusta do emprego e da renda, lembra ele, impulsiona o consumo das famílias. Wjuniski projeta um crescimento neste ano de 6,9% para o consumo das famílias, o principal componente do Produto Interno Bruto (PIB) pelo ponto de vista da demanda. Em 2009, a alta foi de 4,1%.



Nos últimos meses, o mercado de trabalho tem se mostrado muito aquecido. Em agosto, por exemplo, a massa salarial cresceu 8,8% acima da inflação sobre o mesmo mês de 2009. O desempenho se deve à combinação de um aumento de 3,2% da ocupação e de 5,5% do rendimento real. Várias categorias têm obtido reajustes bem superiores à variação dos índices de preços. Além disso, há forte disputa pelos trabalhadores mais qualificados em vários setores da economia, elevando os salários dos novos contratados.

No acumulado do ano, a alta será mais moderada do que nos últimos meses. Ainda assim, a expectativa é de um aumento bastante razoável. Wjuniski acredita que a ocupação vai crescer 3,6% no ano e o rendimento real, 2,8%.

Esse bom momento do emprego e da renda tem se traduzido em expansão expressiva do comércio varejista. De janeiro a julho, as vendas no varejo cresceram 11,8%, na conta que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção. O desempenho é especialmente forte no segmento de móveis e eletrodomésticos, que acumula alta de 19,3% no ano, e no de equipamentos de escritório, informática e comunicação, com expansão de 25,3% no período.

O economista Fábio Silveira, sócio da RC Consultores, lembra que, além do avanço significativo da massa salarial, o crédito tem sido decisivo para impulsionar a demanda. "O aumento do consumo das famílias neste ano é resultado da combinação da alta da massa salarial com a oferta do crédito em condições melhores, com prazos mais longos", afirma ele. Monteiro, por exemplo, comprou a sua bicicleta a prazo, e deverá fazer um empréstimo para pagar metade do carro a ser adquirido no ano que vem.

Wjuniski destaca também o forte aumento das importações provocado pelo crescimento firme do emprego e da renda. De janeiro a agosto, o volume das compras externas de bens duráveis, como automóveis e eletroeletrônicos, subiu 60,9% em relação ao mesmo período de 2009.

Para 2011, a expectativa é de que a massa salarial perderá alguma força. Wjuniski acredita que o aumento nas seis principais regiões metropolitanas do país será de R$ 19,1 bilhões, já descontada a inflação, um aumento que está longe de ser desprezível, pois vai se dar em cima de uma base de comparação mais alta. Em termos relativos, isso significa um crescimento de 5,3%, ajudando a garantir uma expansão do PIB de 4,8% em 2011. Para 2010, a Tendências projeta um avanço de 7,2% para o PIB.

Silveira acredita numa expansão mais forte da massa salarial neste ano do que Wjuniski, mas aposta numa desaceleração mais significativa no ano que vem. O economista da RC prevê um crescimento de 6,8% neste ano e de 3,5% em 2011, principalmente por considerar que o rendimento real deverá perder mais fôlego depois das altas expressivas dos últimos anos. Para Silveira, a renda vai crescer 3,3% neste ano e 1,5% no ano que vem. Já a ocupação passa de uma elevação de 3,4% em 2010 para 2% em 2011. O juro mais alto, o maior endividamento dos consumidores e a baixa competitividade das exportações devem esfriar mais o mercado de trabalho, diz ele. "Mas ainda assim a massa salarial terá uma alta de 3,5%, que é razoável."

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