Valor Econômico – Empresas - 05/05/2017
– p. B7
Renner, Zara e C&A fecham
parceria com OIT
Por Cynthia Malta e Marília de
Camargo César
As varejistas de
moda Renner, C&A e Zara vão investir R$ 1,5 milhão, ao longo de um ano e
meio, em uma parceria público privada (PPP) cujo objetivo é melhorar as
condições de trabalho e a gestão de oficinas de costura na região metropolitana
de São Paulo. O projeto, sob gestão da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), terá como foco imigrantes ilegais, em especial bolivianos, peruanos e
paraguaios. Essa população, estimada em 350 mil pessoas, é submetida com
frequência a condições análogas à escravidão e está espalhada em bairros como
Brás e Bom Retiro, no centro de São Paulo, e nas zonas Leste e Norte da cidade.
"Vamos trabalhar em parceria com órgãos públicos para que essas pessoas
sejam regularizadas, que seus filhos possam frequentar creches", diz o
diretor executivo da Associação Brasileira de Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo
Lima. Esta entidade, que reúne 23 varejistas de moda, e a Associação Brasileira
Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) também assinaram o compromisso de criar
a PPP. Se der certo, o projeto, que terá como gestor Paulo Mouçacah, da OIT,
poderá ser replicado em outros municípios paulistas e Estados. Segundo Lima, há
22 mil confecções de roupa em funcionamento no país, sendo 97% delas de micro e
pequeno portes, e concentradas nas regiões Sul e Sudeste. A estimativa é que
30% da produção de roupa no Brasil esteja na informalidade. Na ponta do varejo,
diz Lima, essa fatia também é de 30%, mas pode ter chegado a 40% por causa da
recessão prolongada, de quase três anos. O projeto também prevê capacitar donos
de pequenas confecções, com orientação nas áreas financeira e de recursos
humanos. Lima lembrou que não é raro imigrantes ilegais que foram submetidos a
condições degradantes em oficinas de costura, repetirem o sistema cruel e
criminoso quando se tornam donos de suas confecções. Em fase de definição de
metas e indicadores, a PPP pretende trabalhar com as comissões de erradicação
de trabalho escravo do governo paulista e da prefeitura, embora esta última
esteja com sua comissão, ligada à Secretaria de Direitos Humanos,
"momentaneamente paralisada", observou Lima. O executivo, que trabalhou
por 18 anos na C&A e está no comando da Abvtex desde dezembro de 2015,
lembrou que a associação tem um programa de certificação de fornecedores. Desde
2010, já foram certificadas 4.112 empresas, sendo dois terços delas micro e
pequenas oficinas de costura. Elas empregam 280 mil pessoas e uma vez por ano
têm suas operações auditadas. Esse tipo de monitoramento ganhou impulso no
Brasil e no mundo nos últimos anos, com a divulgação de casos de trabalhadores
sendo explorados por fabricantes de vestuário e de calçados.
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