quarta-feira, 2 de março de 2016

Flexibilidade na jornada de trabalho das empresas

Valor Econômico - EU & Carreira - 02/03/2016 ­ - D3

Sextas mais curtas para aproveitar os dias de verão 

Por Adriana Fonseca 

Na Accenture e no McDonald's, as sextas­feiras são mais curtas nos meses de verão. A prática permite que os funcionários das duas companhias saiam mais cedo no último dia útil da semana para fugir do trânsito carregado de São Paulo, caso queiram viajar e aproveitar o fim de semana longe da capital, ou para que possam passar o tempo livre com a família e os amigos. O benefício não vem de graça. Silvia Tyrola, líder de diversidade e capital humano da Accenture para o Brasil e a América Latina, explica que os funcionários cobrem as horas que trabalharão a menos na sexta­feira nos outros dias da semana. Feita a compensação, podem sair do escritório ao meio­dia e meia. "Mantemos a prática apenas nos meses de verão porque é a época do ano em que as pessoas mais viajam e querem tempo extra para o lazer", diz. Os 11 mil funcionários da Accenture no país têm direito ao expediente reduzido. Flexibilidade no trabalho é uma prática instituída na consultoria. Os funcionários podem trabalhar de casa uma ou duas vezes na semana, definem o horário de entrada e saída do escritório de acordo com suas necessidades pessoais e de trabalho e podem tirar o dia de folga no aniversário. Além disso, quando uma funcionária volta da licença­maternidade, pode trabalhar parte do tempo de casa até a criança completar um ano de idade. Homens também têm o benefício quando seus filhos nascem, mas restrito ao primeiro mês de vida do bebê. "Essas iniciativas se tornam fator de retenção de talentos e engajamento das pessoas", diz Silvia. As pesquisas de clima da empresa mostram que 80% dos funcionários estão satisfeitos com os benefícios relacionados à flexibilidade. A busca por mais autonomia em relação ao horário e ao local de trabalho é um desejo atual dos profissionais. Pesquisa feita pela PwC em parceria com a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Eaesp­FGV) com 113 empresas, sendo mais da metade delas de grande porte, mostrou que 95% dos respondentes buscam formas alternativas de realizar as próprias atividades. Outro levantamento da PwC mostrou que, entre os integrantes da geração Y (nascidos entre 1980 e 1995), 64% escolheriam trabalhar de casa se isso proporcionasse mais flexibilidade, e 66% preferem horários alternativos. "A flexibilidade no trabalho é uma tendência lá fora e seria também aqui no Brasil se a nossa legislação permitisse", afirma Denise Delboni, professora de relações de trabalho e gestão de pessoas da Eaesp­FGV. "Ouço muitos empresários dizerem que gostariam de oferecer às suas equipes horários mais flexíveis e 'home office', mas têm medo de problemas trabalhistas futuros." No McDonald's, além da prática da "Short Friday", que é bem semelhante à da Accenture, há outros tipos de flexibilidade. Nada, porém, institucionalizado. "Fica a cargo do gestor e do funcionário decidir quando é necessário implementar algo dessa natureza", diz Marcelo Nóbrega, diretor de recursos humanos da Arcos Dorados, operadora da rede de lanchonetes na América Latina. Já a jornada de meio período às sextas­feiras é algo aguardado ansiosamente pela equipe. Durante o verão, as cerca de 400 pessoas que trabalham no escritório da multinacional em Alphaville, na Grande São Paulo, podem deixar o escritório ao meio­dia e meia no último dia útil da semana e compensar as horas de segunda a quintafeira. "Não é uma prática obrigatória, mas eu diria que 90% do escritório adota", diz. Instituída na empresa desde 1997, a "Short Friday" se resume ao verão porque, de acordo com o diretor, é a estação do ano que as pessoas mais viajam. "Não se trata apenas de dar o tempo livre. Tem a ver com a questão da mobilidade", afirma Nóbrega, que diz estudar ampliar o benefício para o resto ano. A farmacêutica Bristol­Myers Squibb tomou essa decisão em 2014. Chamada inicialmente de "Summer Friday" na multinacional, a prática de sair mais cedo às sextas­feiras no verão foi instituída dez anos atrás e depois evoluiu para o resto do ano. A diferença é que ao invés de deixar o escritório no meio do dia, os funcionários podiam reduzir o expediente em duas horas. Mas há dois anos o benefício mudou outra vez. Agora, os cerca de 400 funcionários da companhia podem sair após quatro horas de trabalho toda sexta­feira no verão, outono, inverno e primavera. "Consideramos a prática um auxílio para o funcionário equilibrar trabalho e vida pessoal", afirma Jennifer Wendling, diretora de recursos humanos da Bristol­Myers Squibb. Para ter direito ao benefício é preciso compensar as horas de folga nos outros dias da semana. Segundo Jennifer, como a maior parte da equipe trabalha mediante entregas, o modelo funciona tranquilamente. Para a diretora de RH, a prática é um fator de engajamento e de atração de talentos. "Quando explicamos nossas políticas de flexibilidade, vemos que os candidatos se mostram bastante interessados", conta. Entre as práticas de flexibilidade da multinacional há o "home office" uma vez por semana e a possibilidade de entrar e sair do escritório em horários alternativos. Uma pesquisa da Regus, especializada em soluções flexíveis de espaços de trabalho, com 44 mil pessoas de 100 países mostrou que 59% das empresas brasileiras indicam usar o trabalho flexível como um mecanismo para reter e atrair profissionais. De acordo com o levantamento, 75% dos gestores entrevistados acreditam que o trabalho flexível pode ser produtivo. Mas na opinião da professora Denise, da Eaesp­FGV, nem todos estão preparados. "O brasileiro está muito acostumado a prestar serviço no local de trabalho e tem uma mentalidade voltada à necessidade de ter supervisão", diz. Por isso, segundo ela, as empresas usam a flexibilidade com objetivos diversos, mas não necessariamente visando o aumento da produtividade. "Medidas de 'day off', período parcial de trabalho, 'home office' e flexibilidade de jornada são para criar empatia, para que o profissional queira permanecer na empresa, e não para que ele produza mais", enfatiza. "Um dos fatores que mais fazem as pessoas pedirem demissão é a falta de autonomia em relação à própria jornada de trabalho", complementa Denise. Na Eurofarma, a flexibilidade ajuda a manter um ambiente de trabalho "mais tranquilo e leve", segundo Mikiko Inoue, vice­presidente de recursos humanos da farmacêutica. Além de permitir que os funcionários saiam às 14 horas às sextas­feiras durante todo o ano, a Eurofarma tem horário flexível de saída e entrada no escritório. "No início havia uma preocupação se as pessoas conseguiriam terminar o trabalho com a jornada mais curta, mas não temos problema", afirma Mikiko. "O benefício é um diferencial que ajuda a captar pessoas no mercado." Segundo a executiva, dos cinco mil funcionários da Eurofarma, 90% adotam a jornada reduzida às sextas­feiras. Além das práticas de flexibilidade, a farmacêutica tem uma creche em sua sede no bairro do Campo Belo, em São Paulo, onde os filhos de até seis anos dos funcionários podem ficar. "Facilita a volta da mãe ao trabalho, porque ela pode ir lá rapidamente sempre que sua presença é necessária", diz

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