terça-feira, 10 de agosto de 2010

Crescimento da massa salarial e pleitos de reajustes acima da inflação

Valor Econômico - Brasil - 05.08.2010 - A3

Conjuntura: Elevação do poder de compra da população decorre do crescimento simultâneo de emprego e renda
Massa salarial cresce 6,7% no trimestre


Sergio Lamucci, de São Paulo
05/08/2010

O ritmo de crescimento da massa salarial ganhou força nos últimos meses, com a alta expressiva tanto do nível de emprego quanto da renda dos trabalhadores. Na média do segundo trimestre, a massa aumentou 6,7% na comparação com os mesmos meses do ano anterior, já descontada a inflação. É uma taxa bem superior aos níveis registrados no começo do ano, como a alta de 2,1% de janeiro .

Em junho, a contribuição da ocupação e da renda foi quase idêntica para o crescimento da massa salarial: a primeira avançou 3,5% sobre o mesmo mês de 2009, uma taxa expressiva, mas inferior aos 4,3% de abril e maio. No caso da renda real, houve aceleração, com alta de 2,5% em maio e 3,4% em junho, na mesma base de comparação.

Para a segunda metade do ano, as perspectivas continuam positivas, embora pareça provável alguma desaceleração da velocidade de alta da massa salarial, especialmente em decorrência de uma perda de fôlego da ocupação. Ainda assim, a massa continuará a ser uma das principais fontes de sustentação da demanda. As estimativas mais conservadoras apontam para uma expansão em 2010 entre 5% e 7% - mais que os 4% de 2009, mas inferiores aos 7,5% de 2008, sempre acima da inflação.

O mercado de trabalho teve um primeiro semestre extremamente aquecido. As empresas aceleraram o ritmo de contratações, dada a expectativa de que o país continuará a crescer a taxas razoáveis nos próximos trimestres, ainda que inferiores às dos três primeiros meses de 2010. Nas seis principais regiões metropolitanas do país, a ocupação cresceu com mais força a partir de fevereiro, quando aumentou 3,5% em relação ao mesmo mês de 2009, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE). Em abril e maio, a alta foi de 4,3% nessa base de comparação.

Foi um período de forte crescimento do emprego com carteira assinada, com a indústria recompondo o estoque de mão de obra dispensado no pior momento da crise, diz o economista Fábio Romão, da LCA Consultores. Retrato do que se passa no mercado formal, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra uma alta forte das contratações também na construção civil e nos serviços.

Em junho, porém, a ocupação nas seis regiões metropolitanas cresceu 3,5%, um ritmo mais fraco do que nos dois meses anteriores. Para Romão, o ímpeto de contratação na indústria e também em outros setores deverá ser menor daqui para frente, levando a uma alta mais modesta do nível de emprego. Um aumento da ocupação superior a 4% na comparação com os mesmos meses de 2009 não deve se repetir, acredita ele.

O economista Cristiano Souza, do Santander, também acredita que o aumento do nível de emprego poderá perder fôlego nos próximos meses. "Há limites para a alta da ocupação." Os números do Caged mostram que, em junho, o saldo entre contratações e demissões foi de 213 mil postos de trabalho, abaixo dos 305,1 mil de abril e dos 298 mil de maio.

Se há um razoável consenso de que a ocupação tende a avançar a um ritmo menos exuberante, há mais controvérsia quanto ao que ocorrerá com o rendimento. Romão aposta que também aí haverá uma perda de fôlego.

Segundo ele, a atividade econômica está mais fraca do que no começo do ano, o que limita um pouco o poder de barganha dos trabalhadores, e os índices de preços deverão subir nos próximos meses na comparação com os níveis muito baixos observados em junho e julho - um movimento nada exagerado, mas que contribuirá para limitar uma parte dos ganhos de renda acima da inflação.

"Com isso, nos próximos meses, dificilmente a massa salarial real vai crescer acima de 7% em relação a igual período do ano passado", diz Romão. Em alguns meses do primeiro semestre de 2008, a massa chegou a avançar mais de 10% acima da inflação.

Já Souza acredita que ainda há espaço para aumentos consideráveis da renda. "O salário dos novos contratatados está subindo, à medida que se esgota o estoque de trabalhadores", afirma ele, observando que, num mercado aquecido, há trocas de emprego por conta de ofertas de trabalho por salário maior.

A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, diz que a renda tem reagido ao mercado de trabalho mais apertado, com demanda forte por mão de obra num momento de menor oferta. "Isso leva a maiores reajustes e, também, a contratações por salários mais altos. Além disso, em alguns setores, há escassez de mão-de-obra qualificada."

Romão projeta uma alta de 5,3% da massa salarial em 2010, resultado da combinação de crescimento de 3,1% da ocupação e de 2,1% do rendimento. Nas contas de Romão, a ocupação cresce mais na média do ano do que a renda em grande parte por causa da taxa de expansão mais forte registrada no primeiro semestre. Enquanto o nível de emprego subiu 3,2% de janeiro a junho, a alta do rendimento foi de 1,7% no período.

Em 2009, o grande responsável pela alta de 4% da massa salarial foi a renda real, que subiu 3,2%, enquanto a ocupação avançou 0,7%. Em 2008, um ano de forte crescimento econômico, os dois tiveram uma expansão similar, de 3,4%.

Os economistas do Credit Suisse têm uma previsão de 3,5% para a expansão da renda em 2010, mais que o 1,7% do primeiro semestre deste ano, mas inferior ao aumento médio de 3,6% entre 2006 e 2008. O banco aposta que a velocidade de expansão "continuará a ser mais significativa para os trabalhadores com menor escolaridade, cenário que não corrobora uma avaliação de escassez de mão de obra mais qualificada no país". Para a massa salarial, o Credit Suisse projeta alta neste ano de 7,1%, já descontada a inflação, com alta de 3,6% para a ocupação.



Metalúrgico pede 12% de aumento acima da inflação


João Villaverde, de São Paulo
05/08/2010

Claudio Capucho/Valor

Vivaldo Araújo, presidente do sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos: unido forças com o "inimigo"

Os metalúrgicos estão próximos das datas-base e as reivindicações salariais chegam a ultrapassar a inflação em mais de 12%. O ritmo mais acelerado da economia e os números recordes de produção e venda de veículos e peças no começo do ano dão aos sindicalistas a justificativa para pedir mais. A demanda por salários maiores num momento em que a economia cresce a um ritmo seis vezes maior que em igual período do ano passado conseguiu até unir rivais históricos do movimento sindical.

Dono do maior reajuste salarial do ano passado, o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos reivindica este ano 17,45% de aumento. Em 2009, pediu 14,65% e conquistou 8,3%. Segundo Vivaldo Moreira, presidente da entidade, "a situação está ainda mais favorável para uma vitória".

Para arregimentar mais forças, o sindicato, cujos dirigentes são ligados a partidos como P-SOL e PSTU, deixou de lado as disputas políticas e ideológicas. Na semana passada, promoveu reunião com membros da Força Sindical e CGTB, centrais que abocanham fatias do imposto sindical e que apoiam o governo. Juntos, selaram acordo de campanha salarial unificada. Os sindicatos de São Caetano do Sul e Tatuí, filiados à Força Sindical, e de São Carlos, da CGTB, tambem vão pedir 17,45% de aumento, assim como os metalúrgicos de Campinas, Limeira e Santos.

"Uma união como essa é inédita no movimento sindical. A questão que colocamos é aumento salarial num ano de crescimento extraordinário do país. Não há espaço para disputas políticas quando falamos de dinheiro no bolso do trabalhador", diz Moreira.

Os 131 mil metalúrgicos de Curitiba e São José dos Pinhais (PR), que garantiram reajuste semelhante ao de São José dos Campos no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2%, querem mais em 2010. Segundo Jamil D'Ávila, vice-presidente do sindicato, o reajuste real negociado está entre 5% e 6%.

"Não aceitaremos menos que isso. No ano passado, o setor estava muito aquecido, graças aos incentivos fiscais, mas o país como um todo ainda estava fraco. Agora, não só a indústria automobilística continua forte, como a economia está toda acelerada. Não tem desculpa", diz D'Ávila.

O sindicato se baseia em levantamento realizado pela subseção de Curitiba do Dieese, que aponta resultados mais expressivos da indústria automobilística no Paraná em relação ao resto do país. O estudo mostra que, enquanto a produção total de veículos aumentou 19,4% no primeiro semestre deste ano sobre igual período do ano passado, a produção das três montadoras no Paraná (Volvo, Renault e Volkswagen) foi 25,3% maior.

Na Volvo, montadora que fabrica caminhões e ônibus no Paraná, a produção no primeiro semestre foi 111,8% maior que entre janeiro e junho do ano passado - quase o dobro da produção de veículos comerciais pesados no país, que, na mesma comparação, cresceu 61%, segundo o Dieese. Mesmo que as montadoras não tenham força para manter esse ritmo ao longo do ano, diz Cid Cordeiro, supervisor do Dieese em Curitiba, a produção em 2010 terá aumento significativo na comparação com 2009.

Com 12 sindicatos metalúrgicos filiados em São Paulo, a Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (FEM-CUT) apresenta pauta menos ambiciosa, mas Valmir Marques, o Biro-Biro, presidente da entidade, afirma que "o número que colocamos nas mesas de negociação com os patrões é bem maior que o conquistado no ano passado". Em 2009, os quase 250 mil metalúrgicos representados pela FEM-CUT em São Paulo obtiveram aumento de 2% além da inflação.

O acordo no ano passado, liderado pelos metalúrgicos do ABC - que representam 100 mil trabalhadores - não agradou o sindicato dos metalúrgicos de Taubaté, com base 80% menor. Na oportunidade, o sindicato de Taubaté negociou, além do aumento de 2%, um abono de R$ 2,8 mil, depois estendido aos outros 11 sindicatos da FEM-CUT.

Sindicalista vê momento favorável

De São Paulo
05/08/2010

Os sindicalistas veem o cenário do mercado de trabalho como extremamente favorável às reivindicações salariais. "É o melhor momento da década", resume o presidente em exercício da Força Sindical, Miguel Torres, para quem há espaço para os sindicatos conseguirem aumentos expressivos acima da inflação no segundo semestre. Ele lembra que categorias muito fortes e organizadas têm data-base na segunda metade do ano, como os metalúrgicos do ABC e de São Paulo, químicos, comerciários e petroleiros.

No primeiro semestre, trabalhadores do setor de construção obtiveram reajustes reais bastante elevados. Os da construção pesada em São Paulo conseguiram 3,32% acima da inflação, segundo números da Força Sindical. Outras categorias que vivem momento não tão aquecido tiveram reajustes menores, mas também acima da inflação. O ganho real do sindicato dos trabalhadores de carro-forte e escolta armada ficou em 1,2%, o dos farmacêuticos, em 1,66% e o do setor de brinquedos e instrumentos musicais, em 1,69%, todos nas bases de São Paulo.

"Há muitas empresas em que os trabalhadores fazem horas extras e há falta de mão de obra em vários setores", diz Torres, para explicar seu otimismo quanto à perspectiva de reajustes expressivos este ano. Para ele, o bom momento também possibilita que os sindicatos incluam na pauta outras reivindicações, como a questão da redução da jornada de trabalho para 40 horas. (SL)

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