Valor Econômico - Empresas - 25/08/2016 - B5
Mercedes retira reajuste salarial em 2017
Por Marli Olmos
A MercedesBenz fechou ontem um acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que oferece R$ 100 mil a qualquer
funcionário que aceitar sair da empresa. A oferta vale por uma semana e a meta é obter a adesão de 1,4 mil trabalhadores,
o que equivale a aproximadamente 15% do efetivo. Para evitar cortes, a empresa ofereceu um programa atrativo de
demissão voluntária e a promessa de manter jornadas reduzidas para "driblar" o excesso de pessoal que ainda vai sobrar.
Em troca, o trabalhador que ficar na empresa não terá nenhuma reposição da inflação no salário do próximo ano.
Se de um lado a negociação entre uma gigante do setor automotivo e um dos sindicatos mais combativos do país pode ter
poupado muitos de perder o emprego por outro abre um precedente. "Um acordo sem nenhuma reposição inflacionária
entre uma empresa do porte da Mercedes e um sindicato como o dos metalúrgicos do ABC terá efeito nas negociações que
vêm por aí", diz o professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEAUSP), Hélio Zylberstajn.
Coordenador do boletim "Salariômetro", da Fipe, Zylberstajn lembra que categorias importantes como bancários, químicos
funcionários da Petrobras e outros metalúrgicos estão em véspera de negociação salarial.
Em 2015, a Mercedes acertou com os empregados reajuste de 50% do INPC em 2016 e de 100% do índice de inflação em
2017. No acordo celebrado ontem foi retirada a cláusula do INPC integral no próximo ano. No lugar, os empregados
aceitaram abono de R$ 4 mil, a ser pago em maio, database na Mercedes. Segundo Zylberstajn, tentar compensar a perda
da reposição da inflação com um abono tem sido cada vez mais comum.
Os representantes do sindicato consideram, porém, ter fechado um bom acordo não só por evitar demissões como pela
garantia de estabilidade no emprego até dezembro de 2017. Essa foi uma das principais cláusulas do acordo aprovado em
assembleia ontem de manhã na porta da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), onde são produzidos caminhões e
ônibus. "Abrimos mão do INPC, mas teremos um ano em paz", diz Moisés Selerges, diretor do sindicato e funcionário da
Mercedes. Mesmo que a meta do PDV seja atingida ainda restarão 1,2 mil excedentes, segundo anunciado pela empresa,
que se comprometeu a contornar o excesso de pessoal por meio de ferramentas como "layoff".
Para o professor da FEA, não havia mesmo muita margem para negociar melhor. Segundo dados da Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o volume de vendas de caminhões no Brasil caiu 30,9% de janeiro a
julho e a ociosidade nessa indústria chega a 75%.
Empresa e sindicato acreditam em rápida adesão de voluntários ao PDV, que vai até quartafeira. A gratificação de R$ 100
mil vale para qualquer setor e independe do tempo de casa, o que, segundo Selerges, diferencia a oferta em, relação à
maioria dos PDVs. Segundo o sindicalista, em torno de 60% do efetivo da Mercedes têm até 12 anos de casa. Para ele, a
proposta vai atrair "duas pontas": "a moçada, que tem uma carreira pela frente e os que estão prestes a se aposentar". No
setor de produção da empresa, o salário médio mensal gira em torno de RS$ 4,5 mil.
A indústria automotiva opera com excesso de pessoal desde o ano passado. No início do mês, a Mercedes anunciou que
tinha 2,67 mil empregados a mais no ABC e que já havia esgotado todas as formas de contornar o problema, por meio do
Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e suspensão temporária do trabalho. No dia que anunciou o tamanho do
excedente, a empresa concedeu licença remunerada a todo o efetivo, mas muitos trabalhadores voltaram para a fábrica
para participar de protestos e passeatas.
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